Hipérbato

Hipérbato (do grego hyperbaton, que ultrapassa) também conhecido como inversão ou anástrofe, é uma figura de linguagem que consiste na troca da ordem direta dos termos da frase (sujeito, verbo, complementos, adjuntos) ou de nomes e seus determinantes[1]. Incide quando há demasia propositada num conceito. Assim expressando de forma muito dramática tudo aquilo que se ambiciona o vocabular.

Exemplos

Em obras literárias:

Aquela triste e leda madrugada

—  Luís Vaz de Camões

Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais flores

—  Osório Duque Estrada, em Hino Nacional Brasileiro

Não é que o meu o teu sangue / Sangue de maior primor.

—  Alexandre Herculano

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante.

—  Osório Duque Estrada, em Hino Nacional Brasileiro

O caso triste e dino da memória / Que do sepulcro os homens desenterra,

—  Camões, em Os Lusíadas no episódio de Inês De Castro (Canto III))

Outros exemplos:

  • Dança, à noite, o casal de apaixonados no clube.
  • Aves, desisti de as ter!
  • Das minhas coisas cuido eu!
  • Escura, sombria e assustadora noite.
  • Acompanhando o som da torcida, dançava com a boca o atleta.
  • Brincavam antigamente na rua as crianças.

Exemplo de hipérbato com paráfrase

Original:

Ó gente ousada mais que quantas/ no mundo cometeram grandes cousas/, tu, que por guerras cruas tais e tantas/ e por trabalhos vãos nunca repousas:/ pois os vedados términos quebrantas/ e navegar meus longos mares ousas/ (que tanto tempo há já que guardo e tenho/ nunca arados d'estranho ou próprio lenho)/ -- pois vens ver os segredos escondidos/ da natureza e do húmido elemento/ (a nenhum grande humano concedidos/ de nobre ou de imortal merecimento) --;/ ouve os danos de mi, que apercebidos/ estão a teu sobejo atrevimento/ por todo o largo mar e pola terra/ que inda hás de sojugar com dura guerra.

—  Os Lusíadas, Canto Quinto (episódio do Gigante Adamastor)

Em ordem directa:

Ó gente mais ousada que quantas cometeram grandes cousas no mundo, tu, que nunca repousas por tais e tantas guerras cruas e por trabalhos vãos: ouve os danos de mi, que estão apercebidos a teu sobejo atrevimento por todo o largo mar e pola terra que inda hás de sojugar com dura guerra; pois quebrantas os vedados términos e ousas navegar meus longos mares (que já há tanto tempo que guardo e tenho nunca arados de lenho estranho ou próprio) -- pois vens ver os segredos escondidos da natureza e do húmido elemento (concedidos a nenhum humano de merecimento nobre ou imortal).

Referências

  1. (Mesquita, p. 700) name="mesquita">Mesquita, Roberto Melo (2014). Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva. 752 páginas. ISBN 978-85-02-22083-6 
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